sábado, 22 de maio de 2010

A Visita

A Visita chega a casa como se, Ainda, ali morasse. Como freqüenta o local uma ou duas vezes por semana acompanha o desenvolvimento daquele lar desde sua recente saída e, Com um ar de triunfo, um sorriso amarelo e mesquinho abre-se em seu rosto toda vez que encerra-se a inspeção, Já rotineira, - juntamente com sua dedução de que a casa clama a sua volta- a cada visita.

Traz sempre uma sobra de comida ou bebidas com seus prazos de validade vencidos para garantir sua demonstração de solidariedade - Um tanto eufemista - assim como garante que o que traz está em perfeitas condições de consumo, Apesar das evidências contrárias.

A Visita tem um caráter forte, de pessoa decidida, que sabe o que quer, fazendo o máximo para alcançar seus objetivos. Pena querer tão pouco e ser dona de valores morais tão hipócritas quanto ela os afirma serem dignos e corretos. Por viver desta maneira, pensa muito na vida e, Claro, não na própria vida ou na do casal o qual constitui e sim na vida alheia. Sim, porque quem vive ambições tão ínfimas tem tempo, E tempo de sobra, para ambicionar para a vida dos outros.

Quase uma psicanalista a Visita analisa a fundo os ideais dos próximos, os planos, o destino... Tudo é posto em análise. Novas metas são traçadas, novas ambições, Medíocres ambições - “Pobre, você não sabe o que é melhor para si, é como os outros” - a Visita diz.

A Visita tudo sabe da vida, acredita nisso, pois prosperou, constituiu família e hoje vive como sempre sonhou. E como uma borboleta, a Visita sai de seu casulo para ostentar suas asas - segundo ela, Asas sem igual - como um troféu.

Pobre borboleta... Não passa de uma cigarra barulhenta.